Páginas

sexta-feira, 25 de março de 2011

O lado bom de continuar


Se te pedir para me dar a mão

Espero que aceites o meu convite e

Deixe-me te levar para conhecer o mundo.

Em uma viajem só de nós dois

Te mostrarei em pequenas doses de beleza

O lado bom, bonito e gratificante de sobreviver.

De continuar sendo um sobrevivente nesse mundo

Com os olhos bem abertos,

Porque assim consigo ver a clareza da vida,

A clareza de tudo que consegui realizar.

Se amei ou deixei de amar;

Sonhei ou deixei de sonhar;

Quando magoei ou quando me magoaram;

Se te enxerguei ou se fiquei cego e

Apático para as coisas que realmente devia ter visto...

Isso pouco me importa agora.

Estamos juntos e isso é o bastante.

A vida agora é mais clara, branca...

Como uma pétala caindo suave sobre o vento.

Sonhar, viver e amar não dói.

O que machuca é não conseguir realizar.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Família feliz.




Naquela sala, há muito tempo só havia os escombros de uma família. Havia ainda pessoas mortas, ainda que vivas e respirando. Não se olhavam e nem sentiam mais nada uns pelos outros.Ali existia apenas a mentira misturando-se com a dor a todo tempo.Existia também Henrique, filho do meio do casal, resto de um casamento de ilusões e de muitos tapas na cara, costurando a linha do destino através das bebedeiras do pai, e da apatia da mãe em ver e deixar toda a situação acontecer.Os outros irmãos velavam o corpo do pai morto, como se tivesse sido o melhor pai do mundo; enquanto Henrique, só conseguia se lembrar através dos seus olhos de criança o que sentiu quando tomou o primeiro tapa na cara de seu pai.
Aquela família só existia mesmo no porta-retrato. Não conseguia sentir um pingo de pena em ver o corpo do pai dentro de um caixão, a mãe estava um poço de lamentos e lágrimas. Os irmãos no fundo tinham um misto de pena, raiva e ressentimento. Ele só conseguia sentir alívio de não ter que olhar para o pai cego nunca mais. De não ter que imaginar em que direção seus olhos de bêbado queria alcançar.Alívio, era a única e sucinta palavra que seu cérebro conseguia determinar o significado. Era o único sentimento que nutria em relação ao pai no caixão.
Pela janela, que a mãe acabara de fechar por causa do vento, todos conseguiam ver a chuva caindo e ouvir a voz gritante de uma tia do interior cortando o silêncio histérico que fazia na sala, dizia: "- Deve estar levando muitas saudades!". "- Deve sim!" Pensava Henrique. Saudade da casa que quebrara inúmeras vezes, do olho roxo que fizera em seu irmão menor, da surra que dava em sua mãe até o nariz sangrar... Devia estar levando muitas saudades sim.Saudade da tortura imposta a três crianças, que agora estavam libertas de seus fantasmas do passado.Só não conseguia entender o desespero da mãe.O porquê de tanto sofrimento.
Com os olhos vermelhos, os irmãos por parte de pai chegaram. Depois de mais de dez anos sem ver o pai, fizeram uma entrada triunfal. A irmã que deu o golpe no pastor da igreja universal, casando-se apenas por dinheiro, chegara agarrada aos filhos como uma boa samaritana, a outra que desfez o casamento do chefe e ainda casou-se com ele, tirara da bolsa um óculos escuros e deu um beijo na testa do cadáver, o irmão mais velho sacudiu a cabeça e pensou o mesmo que Henrique: " - O que estamos fazendo aqui?"
O que de mais engraçado existia ali era a figura da mãe. Tão melancólica que chegava a ser uma cena patética. Na hora de fechar o caixão se debruçou contra o corpo e gritava como uma cadela no cio. Devia estar sentido falta das porradas e das fraldas sujas de coco e mijo que tinha que trocar todos os dias de manhã logo depois que o pai teve glaucoma, diabetes, pneumonia, entre outras.Engolia antes mesmo do café.Devia sentir falta do papel de coitadinha e de protagonista de uma novela que nunca teve final feliz.Henrique olhava a cena aterrorizado, ao mesmo tempo em que na sua mente via as imagens de sua mãe sendo levada pro hospital, com sangue por todo o corpo, o nariz quebrado e desacordada.
Quando o caixão estava sendo enterrado, as pétalas sendo jogadas pelas pessoas mortas e vivas pensou ser o último capítulo daquela novela sem final feliz, onde tinha sido revelado o segredo do quem matou (nesse caso ele mesmo) e só lhe restava agora a cela fria, escura e novamente a solidão. Ao matar o pai, Henrique matou seu algoz, queria por fim definir sua personalidade.Vendo-lhe a vida escapar por entre os dedos.Faltava exterminar sua deficiência de viver entre as paredes do passado.Faltava-lhe alguém que apontasse o lado engraçado do drama humano.
Lá fora ainda ventava e chovia.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Apenas palavras soltas.


Tenho agora que arcar com as conseqüências dos meus atos. Preciso fazer isso para continuar caminhando.Tudo o que era antes, nunca voltará a ser.É como um cristal que se quebrou.Quem tem o poder de restaurá-lo?Minha consciência está ainda mais perdida no balé dos meus pensamentos e nas coreografias das minhas palavras. Essa angústia tão devastadora dentro do meu ser me faz viver do que já se foi e das coisas que fizemos juntos. Faz-me relembrar e voltar ao museu do cérebro para encontrar as recordações expostas nas paredes do passado do que fomos um dia. Isso são apenas palavras soltas de uma pessoa que não consegue decifrar o que é a vida sem amizade. Enfim, sinto falta do tempo em que éramos amigos.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Soneto da Inexistência


Tuas palavras cortaram o meu ser
Destruíram meu coração e levaram minha vida
Nunca te terei de volta no meu presente ou futuro
Agora resta-me apenas a dor da perda.

Tenho que correr atrás do juízo perdido
Das pessoas que magoei e se foram com o tempo
Preciso voltar a ser gente e me reestruturar
Mas preciso principalmente voltar a sonhar.

Busco agora o sol incessantemente
Para que ele possa poetizar minha vida
Com frases feitas tatuando meu futuro.

Hoje sou um perdido animal na jaula,
Depois serei flor num enorme jardim
Esperando o momento de ser colhida.

Todo artista devia fazer terapia, ou então beber todos os dias.Só assim estariam revelados e relativamente apático as coisas da vida. Todo artista devia nascer louco e santo ao mesmo tempo. Mas nascemos todos chafurdados no pecado!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Repetitivamente repetitivo


Mergulhei bem fundo dentro de mim,
Encontrei um ser cansado e humano
Bem diferente do menino que sonhava.
No passado deixei um pouco de tudo,
Inclusive um pouco de mim.
Sempre me perdi das pessoas
E depois as encontrava totalmente diferentes.
Nunca dancei conforme a música, e nunca vou dançar.
Mas agora, somente tento entender a melodia
Para exorcizar os fantasmas dentro de mim.

Mergulhei, mas não sei nadar;
Não aprendi a me localizar,
Sei apenas que estou em alto mar
Sem nada para me comunicar.
Estou apenas tentando ser forte
Bebendo o dia
E vomitando a noite!

A cada dia mato os meus heróis e
Os enterro no jardim do tempo.
Eles levam um pouco da minha consciência e coerência
E me sugam o resto de alma,
De corpo só me restam às bactérias.
Sou sopro de um pecado conspirador em que
Vejo-me perdido na viajem ao futuro próximo.
Levo apenas a bagagem dos que não significaram nada,
E um pacote de pessoas previsíveis e inconstantes.
Mas mesmo assim eu levo.

Levo dor e pó,
Tristezas e alegrias falsas.
Levo pessoas e gente,
Não levo roupas, pois estou vestido de palavras.
Levo amor, poemas e poetas,
Areia e um resto significante
E insignificante ao mesmo tempo de vida.
Agarro-me nas ondas do meu mar de lamentações.
Me oponho, me ignoro, me mostro, me coloco contra a maré,
Me ergo e caio de novo,
Sempre aprendo a me levantar.


Te mostro que viver é bem mais revelador,
Emocionante e instigante quanto
Um abraço teu no meio de uma noite doentia.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Doses diárias





Para Dayane Simões


Meu peito está em fagulhas
E meu cérebro não consegue ter noção
De todos os meus pensamentos.
Quem eu sou?
Já me perdi tantas vezes pelos becos da vida
Que tenho muitos medos...
Medo de não conseguir me achar,
de não conseguir mais te achar,
De perder tudo o que amo,
Medo de sofrer sozinho, calado...
Medo de não ter você nunca mais.
Medo!
Como viver sem tua mão segurando a minha e indicando o caminho?
Sem teu coração, sem teu ombro para recostar?
Sonhei tanto, que de tanto não consigo acordar.
Vou juntando os meus caquinhos e me refazendo desse pesadelo.
Sou um insone do mundo, que de insônia e insônia
Vai construindo as paredes de uma vida
Onde as regras são quebradas a cada dez minutos.
Quando nasci,
Meus anjos regraram para mim
A regra de ser feliz,
Mas aí fui adotado pela tristeza
E sonhei com um mundo escuro
Em que o único som que existe é o do teu coração.
Quando resolvi viver,
A regra imposta era a de tentar,
Tentei tanto que não consigo parar.
Vou andando,
caminhando bem lento que nada consigo alcançar.
Quando me perdi em seus olhos e me achei em seu coração,
A regra, era a regra de ser tudo para sempre;
Mas para sempre é coisa infinita,
E o infinito é algo que não posso determinar.
Escrevendo agora, a regra era ser te amar,
Isso é a única coisa que sei fazer, mesmo que não
Exista o verbo em que possa conjugar a palavra reciprocidar.
Criada por mim e executada em pequenas doses diárias de você.
Meu peito está em fagulhas
E meu cérebro não consegue ter noção
De todos os meus pensamentos.